
A lei que reconhece Libras como meio legal de comunicação e expressão determina que serviços públicos de saúde devem garantir o atendimento adequado às pessoas surdas. Num Brasil inclusivo ideal, haveria intérpretes e tradutores da Língua Brasileira de Sinais em cada unidade de saúde do país. Por enquanto, a realidade é outra. Mas pelo menos duas mães surdas conseguiram estar inteiras no nascimento dos filhos, graças à presença de intérpretes e tradutoras na hora do parto.
As mães Débora Lino Cardoso e Jéssica da Costa Vicente não se conhecem, mas têm muito em comum. As duas moram no estado do Rio de Janeiro, acabaram de ter o quarto filho e pela primeira vez conseguiram viver completamente o parto porque contaram com quem traduzisse todo o procedimento para Libras. Elas moram em Angra dos Reis e em São Gonçalo, respectivamente, e tiveram o direito à acessibilidade garantido.
"Me senti mais segura"

Gustavo nasceu no Hospital Maternidade de Angra dos Reis (RJ) na última quinta-feira (5/05). É o quarto filho de Débora Lino Cardoso, que é surda e teve auxílio da profissional Thayane Camilo é servidora da Central de Intérprete da prefeitura do município.
"Foi muito importante, porque nos meus outros partos eu nem sabia o que estava acontecendo, nem com o que estava sendo medicada. Isso me deixou muito nervosa. Com a presença do intérprete, me senti mais segura", relatou a mãe, em libras.
O pai, Nélson Guedes, também é surdo. Ele fez questão de expressar a alegria do momento. "Estou muito feliz por ter tido acessibilidade por completo. No nascimento do meu outro filho, não pude acompanhar, pois tive que optar entre mim e uma intérprete solidária para ajudar na comunicação, no momento do parto", informou.
Emoção para os pais e também para a intérprete. Esta foi a primeira vez que Thayane trabalhou em um parto. "Trabalho como intérprete desde os meus 17 anos, atuei na educação, no setor administrativo, no judiciário, até mesmo em consulta médica, mas em parto foi a primeira vez. É emocionante saber que a mãe teve plena consciência do que aconteceu, em todos os estágios. Fazer parte deste momento foi muito gratificante", disse.
Em Angra dos Reis, a Central de Intérpretes de Libras e Guias intermedia a comunicação entre surdos e surdocegos nos setores públicos da cidade desde 2020. O serviço faz parte da secretaria de Desenvolvimento Social e Promoção da Cidadania do município carioca.
DO PRÉ-NATAL AO NASCIMENTO

Na Maternidade Municipal Mário Niajar de São Gonçalo (RJ), Jéssica da Costa Vicente se emocionou ao receber a descrição de que Pietro tinha chegado ao mundo. O parto foi acompanhado e interpretado pela profissional da prefeitura Raquel Gonçalves Varella.
“Meus últimos partos foram sem intérprete, tive que levar tudo escrito e não tive como saber o que estava acontecendo durante a internação e cirurgia, além deles não entenderem o que eu perguntava e precisava. Hoje, estou muito feliz, agradecendo a Deus por fazer o parto com intérprete. Fico muito mais tranquilo" , contou a mãe.
A profissional Raquel Gonçalves Varella acompanhou a gestação de Jéssica desde o pré-natal e disse que um dos momentos mais emocionantes. "Ela estava ali sem ver e sem ouvir o que estava acontecendo. Quando falei para ela que ele tinha nascido e estava chorando, estava bem, ela se emocionou e também chorou. É muito gratificante poder passar isso para ela”, relatou.

Equipe LIBRAS-SE com Prefeitura de Angra dos Reis e O São Gonçalo
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