À primeira vista, "No Ritmo do Coração" parece previsível e logo nos primeiros minutos dá pra perceber que a narrativa é bem comum: o amadurecimento da protagonista adolescente e os conflitos familiares embalados por canções. Acontece que o cenário aqui é diferente e inovador, indo da gargalhada no começo do filme ao coração apertado no fim, quase como se quem assiste fosse parte dessa família maravilhosa.
Em inglês, o filme se chama "CODA", sigla para “children of deaf adult” (filho de pais surdos, em tradução livre), o que se conecta diretamente com o enredo. Em uma família de pais surdos, a filha mais nova é a única que consegue ouvir e sonha em se tornar uma cantora. O filme se encaixa como "dramédia", mistura de drama com comédia, e consegue atingir o tom certo para construir momentos emocionantes. É um filme sobre surdez, acessibilidade, inclusão social e empatia.
O elenco é incrível! Composto por maioria de surdos, as conversas acontecem em língua americana de sinais (ASL). A expressividade física da comunicação é forte em todo filme, e se destaca no pai da menina, que nos lembra sempre: a língua de sinais é complexa. É toda a composição, os sinais, as expressões e o contexto. O ator Troy Kotsur, que interpreta o pai, é o primeiro homem surdo a ganhar o Oscar de atuação na história da premiação. Ele levou a estatueta de melhor ator coadjuvante e, claro, discursou com sinais.
Dirigido por Sian Heder, o filme de baixo orçamento é um remake do francês "Família Bélier" de 2014, e levou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado por isso. Mas a grande coroação veio com a estatueta de melhor filme do Oscar de 2022. No Ritmo do Coração levou os três prêmios que concorreu! Pelo segundo ano consecutivo, um filme que passa pelo universo da surdez é vencedor da premiação. Em 2021, o filme O Som do Silêncio levou duas estatuetas.
Ao premiar roteiro, filme e ator surdo, a Academia de Hollywood dá mais um passo importante no sentido da inclusão na sociedade. Colocar o assunto no holofote do cinema mundial eleva a representatividade da comunidade surda, especialmente com atores que têm deficiências auditivas. Esse movimento aponta uma atenção maior ao tema por parte da indústria cinematográfica, que, historicamente, é usada como ferramenta política de discussão. E, mesclando música e surdez, provoca reflexões sobre amor, respeito e, principalmente, inclusão social.
Luis Debiasi | CEO LIBRAS-SE
tradução de vídeos para Libras em 24h
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